Uma das irresponsabilidades cotidianas que mais me irritam, e com qual ocupo parte do meu tempo pensando em como poderíamos intervir para que deixasse de ser uma coisa tão comum em nossa cidade, é a forma como boa parte dos pais motoristas deixam seus filhos a mercê da morte ao permitirem que transitem nos veículos sem o cinto de segurança.

Gostaria de pensar que podemos conscientizar estes pais. Mas só vejo duas justificativas para que deixem uma criança solta dentro de um veículo em movimento: ou o pai é louco e não sabe o que está fazendo, ou é malvado e tem mesmo a intenção de matar o próprio filho. Desculpas existem muitas: “meu filho não se sente bem com o cinto”, “ele chora”, “ele tira”, “ele bate”, “ele é hiperativo”. Pais saudáveis cuidam de seus filhos no trânsito da vida.

O fato grotesco é que as crianças são expostas diariamente às peripécias dos pais no trânsito e nenhuma autoridade familiar ou de estado toma alguma providência. Pior, tem quem ache engraçado. Tem quem fica orgulhoso de ver o filho de seis anos surfando em cima do banco traseiro no ziguezaguear do carro pelas ruas. Provavelmente estes pais sejam os mesmos que oferecem “só um pouquinho” de cerveja às crianças - nada que justifique, na opinião torpe destes mesmos pais, a embriaguez ou cocainês dos filhos quinze anos depois.

Independentemente de estabelecermos se um pai expõe a vida de seus filhos por loucura ou por maldade, me pergunto também: por que aquele guarda em frente à escola, ou num cruzamento movimentado, ou numa ruela qualquer, não enxerga, ou não quer ver, ou não acha errado o desfilar desavergonhado destes pais perigosos com seus filhos sem cinto de segurança?

Finalmente, me pergunto de quem devemos cobrar a segurança destas crianças. Dos pais loucos ou malvados ou dos guardas de trânsito? Obviamente, assim como existem pais, também existem policiais loucos ou malvados. Não creio que se possa pedir muito a um louco ou a um malvado. Acredito que se pode sempre contar com a colaboração das pessoas normais. Gostaria de pedir aos guardas corretos e prestativos - que são maioria na polícia e no SETERB, que passem a aplicar a lei que proíbe pessoas pequenas e grandes de circularem pela nossa cidade sem o cinto de segurança.

A lei de trânsito, que regulamente em seus artigos 65 e 167, a obrigatoriedade do cinto de segurança, em tese pode parecer menor que a que proíbe alguém de assaltar um banco. Mas só porque se reconhece mais facilmente o assaltante de banco encapuzado e com uma metralhadora, não quer dizer que estes infratores sobre rodas disfarçados de pai ou mãe não sejam tão ou mais perigosos quando permitem que seus filhos circulem pelas ruas da cidade sem cinto de segurança. Portanto não devemos mais flexibilizar a lei para quem põe em risco a vida de nossas crianças.

Claudemir Casarin dos Santos - Psicólogo